Uma história de sucesso que ainda não acabou...

Passou a sua adolescência no Sul dos Estados Unidos em Lafayette no estado de Luisiana.

Abusou do alcool e dos charros e acabou a escola secundária á rasca.

Aos 21 anos foi a tribunal e o Juiz deu-lhe a escolher entre uns tempos de cadeia, ou uma estadia numa casa de tratamento e recuperação de drogas em Salina no estado do Kansas.

Fez-lhe bem a mudança de ares para o interior do pais e após seis meses de tratamento, ele começou a ver as coisas de outra maneira...

Mais tarde ele admitiu que o tratamento no Kansas foi o melhor que lhe aconteceu na vida.

Arranjou emprego num turno da noite como cozinheiro numa estação para camiões, ganhava pouco mais que o ordenado mínimo.

Mais tarde mudou para um part-time a verificar lâmpadas numa linha de produção da Philips, o sonho dele nesta altura era ficar neste trabalho a tempo inteiro.

Entretanto já tinha substituido completamente o vicio das drogas e do alcool pelo vicio do vinyl, apercebeu-se da qualidade de som dos discos audiófilos colecionáveis.

Passava o seu tempo livre a comprar discos de vinyl audiófilos usados.
Por volta de 1984 com o aparecimento do CD as pessoas começavam a livrar-se das suas coleções de discos de vinyl.

Ele viu nisso uma oportunidade de negócio e um nicho de mercado, continuou a comprar e começou também a vender esses discos usados audiófilos colecionáveis.

Por volta de 1985 ele vivia num pequeno apartamento de 2 assoalhadas, e começou a colocar anuncios de compra e venda de discos em revistas da especialidade.

Pouco tempo depois de se dedicar ao negócio dos discos, deixou o seu trabalho na linha de lâmpadas da Philips.
E em 1986 criou oficialmente a Acoustic Sounds trabalhando sozinho a partir do seu pequeno apartamento.

Em poucos anos já tinha a casa toda cheia de caixotes com discos, era discos por todo o lado, no quarto, na sala, na cozinha e por fim até na casa de banho...

Além de vender discos audiófilos usados já vendia discos novos de várias editoras audiófilas.

Em 1990 ele já vendia 100 mil dólares por mês em discos.

Carrinhas da UPS carregavam e descarregavam discos quase todos os dias no seu pequeno apartamento, mas quando os vizinhos começaram a queixar-se dos camiões grandes a descarregar paletes de discos...
Ele viu que estava na hora de mudar para uma casa um pouco maior.

Mudou-se para uma moradia de 4 assoalhadas e contratou alguns empregados.

Depois de terminar a liberdade condicional, as entidades de Kansas escreveram uma carta aos funcionários de Luisiana,
nessa carta indicavam que ele estava limpo de problemas, a construir um negócio sólido e já empregava várias pessoas.

Como resultado o governador do estado de Luisiana Edwin Edwards emitiu-lhe um perdão completo.

Mais tarde o nosso homem disse "Eles não desperdiçaram o seu perdão!"

Pouco tempo depois, contratou mais alguns empregados e arranjou umas instalações maiores no centro.

Em 1991 começa a reeditar alguns dos seus discos audiófilos favoritos criando a sua própria editora Analogue Productions mas prensados na fábrica RTI.
o grande Doug Sax começou por fazer belas remasterizações, depois também o Kevin Gray e o Steve Hoffman e mais recentemente a Sterling Sound com o malogrado George Marino entre outros.

Depois vieram mais empregados e outra mudança para um armazém de 6.000 metros quadrados.

Quando uma igreja de estilo gótico no centro de Salina é colocada á venda, ele compra-a pensando que seria bom como espaço extra para armazenar discos.

Mas tinha acabado de criar também a editora APO Records (Analogue Productions Originals), dedicada a gravações e edições originais de Blues.

E por isso mesmo acabou por transformar a igreja num estúdio de gravação (Blue Heaven Studios) e também numa sala de concertos.

Em 1998 começa a organizar anualmente em Blue Heaven o festival "the Blues Masters at the Crossroads", neste espectáculo participam muitos dos artistas que ele gravou na sua editora APO.

Nesta altura a Acoustic Sounds já não vende apenas discos, reedita discos audiófilos de alta qualidade e grava os seus próprios discos originais,
e com uns concertos de Blues pelo meio...

É criada uma equipa de design para o artwork dos produtos criados na casa.

Muitos mais empregados e a Acoustic Sounds muda-se para um armazém de 18.000 metros quadrados.

Em 2010 a Acoustic Sounds compra a defunta editora audiófila Classic Records, ficando assim com a possibilidade de usar no futuro o Clarity Vinyl, Quiex SV-P, 200g Flat Profile, além do acesso a muitos títulos do catálogo da Classic Records remasterizados pelo grande Bernie Grundman.
Já para não falar no facto de com esta aquisição acabar com uma parte da concorrência.

A Acoustic Sounds volta a mudar-se para um complexo de 3 edificios totalizando 70.000 metros quadrados.
E fazendo parte dessa expansão é criada em 2011 a fábrica Quality Record Pressings (QRP) que ocupa 20.000 desses 70.000 metros quadrados.

Com 3 tipos diferentes de maquinas de prensagem que incluem uma Toolex Alpha (Feita na Suécia), uma SMT (Southern Machine & Tool Corp. de Nashville, Tennessee) e uma Finebilt (de Los Angeles).

As Toolex Alpha e SMT são automáticas e a Finebilt manual, mas todas incorporam importantes melhoramentos tais como microprocessadores, controlo de temperatura, vibração, pressão, sistema de vacuo para uma melhor prensagem, etc...

A fábrica QRP inclui um departamento de plating e o contributo do experiente Gary Salstrom que foi contratado da fábrica RTI.

Assim a Analogue Productions e a APO deixam de ter de fabricar os seus discos na RTI, passando a fabricar os seus discos em casa na excelente QRP no edificio mesmo ali ao lado.

Neste momento a fábrica prepara-se para crescer com novas prensas, a acoustic sounds também já vende á algum tempo downloads digitais de alta resolução, e prepara-se para criar também uma gráfica para as capas dos discos de vinyl.

Tudo isto na pequena cidade de Salina no estado do Kansas,
onde o começo humilde de um pequeno negócio de apenas um homem chamado Chad Kassem, que chegou a essa cidade com uma mão á frente e outra atrás para fazer uma cura de desintoxicação, em que cumpriu a sua liberdade condicional substituindo os seus vicios de droga e alcool pelo vicio do vinyl, criando assim um império com uma cadeia de valor completa que não pára de crescer.

Abraços e Boas Audições,
Jorge Ferreira

Quem diria que uma história pessoal tão enviesada pudesse desembocar numa história coletiva tão apetecível...

Na verdade (e bem vistas as coisas) a história da arte (da música em particular) está colada e bem colada à história das drogas... que Antonio Escohotado bem discorreu...

http://www.escohotado.com/historiageneraldelasdrogas.asp

http://es.wikipedia.org/wiki/Antonio_Escohotado


Continua Jorge.

Abraço

Bem dita desintoxicação...



Fredie

Bela história

Bela história e maravilhosamente escrita pelo Jorge.

António José da Silva escreveu:

Bela história e maravilhosamente escrita pelo Jorge.

.. as usual...

Muito bom.
Como sempre Jorge.
Grande abraço

Bom post Jorge

Esperemos que esta historia tenha ainda muito para contar pois nos queremos discos de qualidade

Um homem que substitui o vício do álcool pelo vício do vinyl e enriquece, só pode ser uma boa história!

Já eu tenho vindo a substituir o vício do vinyl pelo vício do álcool para ver se não empobreço...

Jorge Ferreira escreveu:

Um homem que substitui o vício do álcool pelo vício do vinyl e enriquece, só pode ser uma boa história!

Já eu tenho vindo a substituir o vício do vinyl pelo vício do álcool para ver se não empobreço...

Calma Jorge

Ainda vais na fase das vendas. Quando passas á fase da produção ? Tens de dar um impulso aí ao pessoal da Armoniz que parece perdeu algum entusiasmo. Espero que só tenham perdido entusiasmo...

Abraço e continua com as tuas ´belíssimas crónicas..

Aspra

Jorge Ferreira escreveu:

Um homem que substitui o vício do álcool pelo vício do vinyl e enriquece, só pode ser uma boa história!

Já eu tenho vindo a substituir o vício do vinyl pelo vício do álcool para ver se não empobreço...

Enfim, mas olha que um gajo da maneira que bebe, também não vai longe.

E o homem continua cheio de vontade em expandir o negócio, e com alguma sorte à mistura.

http://www.analogplanet.com/content/garage-sale-find-has-qrp-adding-13-additional-record-presses

Há quem diga que a sorte protege os audazes,
eu acredito que os audazes protegem a sorte...

Jorge Ferreira escreveu:

Há quem diga que a sorte protege os audazes,
eu acredito que os audazes protegem a sorte...

Depois de uma valentes CRF's, crias novos provérbios populares de grande qualidade.

António José da Silva escreveu:

Jorge Ferreira escreveu:

Há quem diga que a sorte protege os audazes,
eu acredito que os audazes protegem a sorte...

Depois de uma valentes CRF's, crias novos provérbios populares de grande qualidade.

bom, se o administrador diz que tem grande qualidade, é porque tem !!!!

Jorge Ferreira escreveu:

António José da Silva escreveu:

Jorge Ferreira escreveu:

Há quem diga que a sorte protege os audazes,
eu acredito que os audazes protegem a sorte...

Depois de uma valentes CRF's, crias novos provérbios populares de grande qualidade.

bom, se o administrador diz que tem grande qualidade, é porque tem !!!!

Eu depois de umas valentes CRF's, não entendi bem a mensagem do provérbio, mas pareceu-me interessante.

Excelente artigo!!!

E eu que trabalho nesta área (óleo-hidráulica), ao ver o vídeo, até gostava de ajudar a fazer umas prensas

Muito gostava eu de saber o que é feito dos equipamentos das nossas fabricas de discos....

Milton escreveu:

Muito gostava eu de saber o que é feito dos equipamentos das nossas fabricas de discos....

Provavelmente foi para ferro vendido ao Kg.

António José da Silva escreveu:

Milton escreveu:

Muito gostava eu de saber o que é feito dos equipamentos das nossas fabricas de discos....

Provavelmente foi para ferro vendido ao Kg.

Pior...se calhar tiveram que pagar para irem la retirar tudo...

A CRF já não é o que era....

Por outro lado, a nível de prensagem de vinil em Portugal só conheço a fechada Rádio Triunfo (fabrica da melhor batata frita à Inglesa....)