The BIG Three !

Os Can's estão na moda..., e jà parece longe o tempo quando passava por um maluco pois escutava muito desta maneira, numa época aonde fora os audiofilos "puristas" que possuiam exclusivamente os Stax, Jecklin Float e Koss electroestàticos, não havia um grande mercado ném atenção ou mesmo interesse pelos Can's electrodinamicos...


Apesar de terem passado vàrios anos na sombra dos electroestàticos, e de não poderem rivalisar objectivamente com estes, o vento começou a mudar nos anos 80. A Beyerdynamic lança a primeira série do DT880 e abre a guerra, seguida no final dos anos 80 pela Sony que cria o MDR10 que foi batizado desde a sua saida "King of headphones" !...

A partir dos anos 90, vàrios constructores compreendem que um pequeno mercado pode existir e a progressão em qualidade dos electrodinamicos torna-se quase exponencial. Nos anos 2000 os portamoveis e os mp3/ipod criam a necessidade de Can’s leves e a alto desempenho o que ajuda a desenvolver ainda mais as tecnologias. Desde 2005 apareçe uma moda ligada aos Can’s de salão (uma forma de snobismo…) com forums dedicados e mesmo lojas especificas. Estes fenomenos acompanham-se sempre, de uma competição de marcas, preços, estética e marketing que culminam em preços desrazoàveis e qualidade final duvidosa…


No entanto, existem três Can’s que se tornaram clàssicos e que são regularmente citados como representando uma forma de apogeu. Chamados os "Big Three", ou os Grandes Três na lingua de Camões, eles são o diapasão ao qual os novos Can’s são confrontados afim de determinar o nivel de qualidade. Cada um no seu estilo pode ser um Can para a vida e estão longe de ser complétamente ultrapassados…

Vou então vos presentar individualmente o Sennheiser HD600, o Beyerdynamic DT880 Pro e o AKG K701, afim de conhecer-mos melhor a grande Troika antiga dos Can’s…  mas, entretanto podem ler este artigo similar sobre eles :

O Sennheiser HD600 é o sucessor do HD580 e foi lançado em 1997 como o topo da gama desta marca alemã. Desde a nascença este Can foi aclamado pelas revistas internacionais como um dos melhores do momento, no entanto muitos audiofilos lamentavam a lentidão dos ataques e uma forma de desfocagem do sinal musical que acabou por ser batisado o “véu Sennheiser”. Vamos ver que na realidade esta apreciação resultou essencialmente de uma mà associação do Can, mais do que de uma verdadeira caracteristica subjectiva…

Apresentação: O HD600 é essencialmente fabricado em plàstico de grande qualidade (policarbonato) e a finição é digna da reputação de qualidade da Sennheiser. As almofadas são em veludo confortàvel e o peso de 260g torna-o agradàvel e leve mesmo durante uma escuta longa. A pressão nas orelhas é um pouco forte e dura, por causa da espuma das almofadas, mas estas englobam bem as orelhas e não aqueçem demasiado. A forma oval das almofadas assegura uma boa imobilisação do Can durante os movimentos de cabeça e dà-lhe, em conjunto com as grelhas muito arejadas esse aspecto visual reconhecivel e do tipo electroestàtico (alusão ao Orpheus da mesma marca).

Técnica: A tecnologia dinamica deste Can é do tipo aberto, o que significa que a isolação em relação ao exterior é fraca, o que em si não é problemàtico pois é feito para uma utilisação sedentaria. Os drivers de grande diametro e com bobina em aluminio são leves e asseguram uma excelente resposta impulsional. A impedância de 300 ohms é apenas problematica e veremos depois a razão. O cabo é desligàvel e de qualidade média, mas existem muitos constructores que fabricam cabos supelentes de alta qualidade como a Cardas…

Utilização: Como qualquer Can de alta qualidade, o HD600 vai dar o melhor acoplado a um Headamp de qualidade e de preferência bem adaptado à alta impedância. Eu disse atràs que esta é apenas problemàtica, pois estes Sennheiser fazem musica mesmo ligados a um computador, o que é raro nesta categoria. Evidentemente o som é menos rapido e preciso que com um headamp adaptado aos 300 ohms, mas as sonoridades são suaves, quentes e macias nos ataques num estilo do tipo Vintage. Este fenomeno explica a reputação de som velado e lento que alguns lhe deram à saida, mas é um efeito de mà adaptação e não a sua personalidade. No entanto é com um grande Headamp ou um OTL que o HD600 desenrola a latitude da sua classe, então os resultados de escuta que vão seguir foram feitos com um Headamp hibrido e um SE a vàlvulas…

Escuta: O HD600 é um verdadeiro HifiCan, o que significa que o som não foi tratado para ser neutro, linear ou analitico, mas sobretudo para ser elegante, arejado e rico harmonicamente. Este Sennheiser é devastador nos médios que possuem uma beldade e uma coherência tonal hipnotica. O som é algo “fisiologico” privelegiando os extremos em amplitude, mas de uma maneira unica pois, os agudos são ràpidos, cristalinos, finos e incisivos enquanto os graves são amplos, quentes e suaves o que cria um efeito de electroestàtico encorpado inimitàvel ! A dinamica é excelente e acoplada a uma bela definição que acentua os contrastes da musica cria um som arejado, delicado e complexo que favorisa as gravações das vozes e os instrumentos acusticos, mais do que o rock ou a musica eléctronica. O grave não é muito profundo, mas em contrapartida é bem nuanceado e com um grande impacto. O equilibrio global é então paradoxalmente claro/obscuro, fazendo emergir uma grande elegância formal na reprodução. Na realidade é um Can para melomanos, mais do que para audiofilos…

Conclusão: Pela elegância e categoria inimitàvel que confere à reprodução da musica, o Sennheiser HD600 continua a ser uma estrela brilhante e sem concurrência real. As suas qualidades vão ser encontradas de maneira dispersada noutros Can’s, mas não reunidas. Se alguns dos modernos vão mais longe em certos aspectos, falta-lhes o suplemento de coerência tonal, abertura e classe para serem alternativas crediveis. Então na sua categoria de preço e mesmo mais longe, estes Can’s continuam a ser uma referência incontornàvel e estão a mais de meio caminho andado para serem um mito…

Eis un Can quase incompreensivel e altamente incompreendido, pois adulado ou detestado mas sempre respeitado e sém que se saiba muitas vezes porquê. O DT880 é o velhote do grupo pois o MKI data do fim dos anos setenta. Este Can da Beyerdynamic é mitico por vàrias razões, mas a principal é que foi o “Stax killer” e o primeiro dinamico a atacar os electroestàticos no proprio terreno sonoro destes, dando a nobreza à tecnologia dinamica. No entanto, a vocação professional da marca e do modelo desviou sempre os amadores do seu caminho, ora que é um Can altamente audiofilo finalmente quando funciona como deve ser. Pois o problema reside aqui, e este DT880 é extremamente complicado a fazer bem funcionar, e não sò por causa da alta impedância…

Apresentação: O Beyerdynamic DT880 é fabricado com bons materiais e alterna aluminio e plasticos de qualidade. A estética é simples e eficaz, devido à vocação professional e original do Can, mas em contrapartida é solido e indestructivel. O DT880 é o oposto de un Fashion Can, mas é um grande representante da teoria conceptual aonde “a forma é ditada pela função”. Actualmente a Beyerdynamic tém um “configurador” no seu site, permitindo de escolher as cores do Can e personalizà-lo ao gosto do futuro proprietario…

Técnica: O DT880 é do tipo semi-aberto, o que significa que é um compromisso entre as estruturas fechadas e as abertas. Os drivers da casa de grande diametro existem em três impedâncias 30 / 250 / 600 ohms o que permite de escolher em função da utilização. Apesar de não ser desligàvel, o cabo é de qualidade e não necessita “upgrade” ném modificação o que é raro. Todas as peças podem ser desmontadas e mudadas, que permite de o reparar em qualquer situação.

Utilização: O Can testado foi a versão de 600 ohms, que requer  OTL’s ou aparelhos capazes de atacar altas impedâncias como é claro. O DT880 por causa do caràcter sonoro altamente ràpido e ciselado, exige headamps de “altissima” qualidade, e traduz todos os defeitos do sistema ou da gravação. Esta é talvez a razão que explica as opiniões divergentes quanto ao som, e ao mesmo tempo a forma de desdenho que os CanManiac lhe dão. O espirito sonoro é o mesmo nas três impedâncias diferentes, mas a versão de 30 ohms é mais conciliante quanto à qualidade do amplificador, e mesmo um leitor portàvel de qualidade pode dar resultados aceitàveis ou mesmo bons. Uma “queima” longa (de preferência com faixas adaptadas) é necessaria para amaçiar o Can, pois sem ela os agudos podem ser como lâminas…

Escuta: O DT880 é ultra linear e definido em todas as frequências. Pela rapidez, precisão e articulação o grave dà o sentimento de leveza ou de ausência. Os agudos são cristalinos, ciselados, nitidos, arejados e quase agressivos consoante o headamp. O médio é herdeiro deste espirito e atinge uma acelaração e nitidez electroestàtica, mas em mais linear e coerente. A dinamica é explosiva e conjugada com um alto grau de transparência e definição, pode dar a impressão de um som demasiado claro ou metàlico. A articulação e separação tonal é de um nivel muito elevado, mas em contrapartida cristalisa os defeitos da fonte ou do headamp. A ausência de calor artificial, conduz a um sentimento de neutralidade tonal clara com um palco muito arejado e vaporoso. A extrêma transparência do DT880 focalisa a atenção no resto do sistema e não perdoa nenhuma deriva sonora, por pequena que esta seja. Apesar desta forte personalidade, o Beyerdynamic não soa de uma maneira fria, ném pareçe demasiado analitico, pois a linearidade e a coerência tonal são constantes...

Conclusão: Pela alteridade sincéra que dà à reprodução sonora, o DT880 é detestado pelos subjectivistas e adulado pelos objectivistas e engenheiros de som. Ele dà a “ver”o que està no disco e que é musica em conserva…, mais do que a “sentir” o que é uma idealisação filosofica da HiFi. Então de repente, as suas qualidades para uns são paralélamente os seus piores defeitos para outros. Mas, as suas qualidades de rapidez, dinamica e precisão que o metem em igual dos electroestàticos lhe são criticadas, ora que não é o caso para estes ultimos. Un Can que provoca e levanta questões essenciais e que deve ser escutado ao menos uma vez afim de compreender a complexidade do audio…

A marca austriaca AKG evoluiu sempre com um olhar atentivo em direção dos dois vizinhos alemãos jà citados anteriormente. À Sennheiser ela respondeu com um sentido da éstética e da inovação comparàvel, ora que à Beyerdynamic a resposta é mais sonora que industrial, e quase em forma de mimetismo ou de seguidor. Então, a AKG é uma marca que concilia à sua maneira, uma presentação original e qualitativa ao mesmo tempo que um som muito pessoal. A reputação de som analitico é merecida, mas a de som “frio“ ou “seco“ é exagerada, e muitas vezes o resultado de um mau acoplamento. O K701 é o herdeiro dos K401 e K501 dos anos noventa que jà tinham feito falar deles, e que anunciam a revolução austriaca…

Apresentação: O K701 é um Can imposante e de grande volume. A técnica dos arcos metàlicos com a faixa de couro que desliza e se adapta automàticamente à morfologia do auditor, é inteligente e alivia o peso do Can que é de 235g apenas. As conchas de grandes dimensões em plastico de qualidade e recobertas de veludo, são agradàveis ao contacto e permitem escutas prolongadas com conforto e sem aquecimento excessivo das orelhas. O design original confére ao K701 um aspecto técnologico evidente, que é tão adapatado a uma escuta doméstica que à professional…

Técnica: O AKG é do tipo aberto como o Sennheiser, destinando-o à escuta sedentària ou de estudio. Equipado com drivers de grande diâmetro e alto desempenho, a impedância de funcionamento é de 62 ohms. Teoricamente, este Can é facil a alimentar mas veremos depois que não é “complétamente“ o caso. O cabo que não é desligàvel (mas é no modelo K702), é de uma qualidade média e mereçe de ser mudado numa utilisação de alta fidelidade. Certos cabos como os  japoneses da Canare ou Mogami, dão muito bons resultados neste Can por um preço muito razoàvel. Como para os Beyerdynamic, uma “queima“ prolongada e adaptada é altamente recomendada afim de usufruir destes Can’s nas melhores condições…

Utilização: Apesar da relativa baixa-impedância, o K701 é guloso em energia e não se comportarà ao seu melhor nivel com um computador ou com um leitor portàvel. Um headamp equilibrado (e de preferência encorpado e quente) é então um minimo obrigatorio. Este AKG é extremamente reactivo ao material, e visto que a sonoridade da marca é habitualmente classificada de “analitica“ ou “fria“, uma atenção muito especial deve ser feita ao acoplamento subjectivo com o headamp. Como todos os Can’s abertos, deve-se evitar de os deixar fora da caixa afim de evitar que a poeira entre nas conchas e se pouse nos drivers…

Escuta: O AKG K701 possui uma sonoridade aberta, arejada, definida e nitida que faz pensar ao DT880, mas que no fundo é muito diferente. O palco é amplo e materialisado o que cria um contraste com a definição do sinal e forma um claro/obscuro unico. O grave é mais amplo do que no DT880 e possui o mesmo impacto do que o HD600, mas com mais nitidez e nuance. A transparência dos médios, não atinge subjectivamente o nivel do DT880 sobretudo porque os agudos cortam mais cedo do que neste ultimo. Este efeito de extremo agudo e grave ligeiramente atenuado, concentra a nitidez nos médios e explica a reputação de som analitico. No entanto, apesar das sonoridades ciseladas, o som não é “frio“ e esta impressão é ligada ao acoplamento com headamps analiticos, com a saida do computador ou de certos leitores fracos em corrente. Paradoxalmente, o K701 não é tão ràpido nas impulsões do que os outros, e este fenomeno humanisa as sonoridades analiticas que se tornam aveludadas e quase quentes. São estes elementos subjectivos em equilibrio, que não fazem do K701 ném um concurrente do HD600 ném do DT880, mas uma terceira via quase sintética…

Conclusão: Dotado de uma personalidade unica, este AKG é uma visão da reprodução que sintetisa a intenção da marca austriaca. A meio caminho entre uma visão hifi e uma professional, este Can agrada ou não ! Pela amplor do palco e suavidade global, acoplada a uma alta definição e ciselado o K701 pode ser extrêmamente excitante e mesmo fantàstico à condição de encontrar o bom casal. Sem ser realmente a sintese dos outros dois, ném um mundo complétamente à parte, a AKG prova com este Can que està ao nivel dos vizinhos e em certos aspectos mesmo à frente. O K701 foi o acto de independência e a prova da idade adulta do constructor austriaco…