As sete maravilhas do analogico !!!

a medida que este topico avança tomo consciência da honra e do peso de vos escrever isto. Vivo uma emoção diferente a cada episodio, que me perturba e me constroi ao mesmo tempo. Tomo uma consciência fisica do respeito e da grandeza humilde que estes homens nos comunicaram. Penso ao imenso privilégio que é de perpétuar, pela partilha, a obra deles e ao sentimento imenso e unico que é de a tentar compreender. Tenho um sentimento de divida eterna, como possuo em relação aos meus pais, pois estes homens deram um sentido espiritual à vida de pessoas como eu, talvez como nos. O meu imenso obrigado !!! a eles, e a voçês pelo interesse que estes modestos artigos despertam…

Estamos no começo dos anos sessenta nos Estados unidos. A hierarquia da alta fidelidade nesse pais é clara pois a McIntosh domina com insolência o mercado, seguida pela Marantz e pela Harman Kardon. A Marantz vê com irritação este estatuto de eterno segundo lugar. Não é que os aparelhos da Marantz sejam piores, mas é difícil de resistir aos cromados sob preto da McIntosh que fazem pensar às Harley Davidson e aos Cadillac dessa época, e perpetuam o sonho americano de grandeza e originalidade. Os « Mac » são potentes e muito dinâmicos, ao ponto de serem assimilados ao som americano. A assinatura sonora dos Marantz é mais refinada, mais elegante e a estética também, mas para o consumidor americano da época, são aparelhos mais proximos da sensibilidade europeia, ou seja, são aparelhos para intelectuais. O Saul B. Marantz sabe que a única maneira de inverter a tendência é de fazer um aparelho que seja o melhor de sempre, uma obra prima, um monumento do áudio que seja reconhecido assim. A FM que vem de nascer é uma fonte muito utilizada pelos melómanos, e isto vai lhe dar a ideia de fazer um Tuner de exceção, assim nasce a ideia do 10B. Mas a alta frequência é um domínio que tem pouco a ver com o áudio e necessita conhecimentos específicos. Isto não vai ser um problema, pois o Sr Marantz vai buscar o Leonardo da Vinci da alta frequência e propor-lhe de conceber este projeto louco. Podemos imaginar assim a conversa definitiva entre os dois homens:
- Mas Sr Marantz, este projecto é excitante mas louco !... você imagina quanto vai custar o estudo e a produção deste aparelho feito assim ???...
- Day, meu jovem amigo, todos os aparelhos custam algo, mas o melhor aparelho de sempre não tem preço!... vamos construi-lo juntos e custe o que custe, isso não será um problema !!!...
O Saul B. Marantz não sabia que nesse dia estava a assinar o acto de nascença do 10B e o acto de falecimento da Marantz. Eis meus amigos, uma verdadeira historia de visionários e de poetas do áudio, uma tragédia grega à americana, um mito moderno de elevação e de queda, de vida e morte juntas !!!

Mas finalmente o Tuner Marantz 10B é tão bom quanto se diz ? … Oh sim !!!, é mesmo o melhor de sempre e igualmente, um pouco superior ao Tuner Sequerra que o Day Sequerra (pai tecnológico do 10B) vai fazer quinze anos mais tarde. Descrever tecnicamente o Marantz é complicado, mas vamos ver as principais particularidades deste aparelho. O principal inconveniente da FM são os agudos. A medida que a frequência se aproxima dos altos agudos e da frequência de porte, os sinais possuem uma diafonia muito alta, uma grande desfasagem e uma distorção imensa, e isto em todos os tuner, mesmo nos melhores de hoje. Para evitar este fenomeno o Sequerra vai utilizar uma técnica herdada do radar, ou seja, a sintonização a média amplitude*. Isto vai consistir a receber e a separar os dois canais da FM e a intercalar uma frequência de separação para tratá-los independentemente. Através de filtros e de cabeças de acordo separadas, o Marantz 10 B atinge uma diafonia de 30dB a 15KHz e uma distorção de sinal de 0,01% à mesma frequência, o que é único e estupendo, explicando ao mesmo tempo os seus agudos de veludo e o seu palco único !!! O seu osciloscópio incorporado permite de colar a cabeça de receção na frequência de emissão e os estabilizadores de deriva asseguram que esta sintonização fica estável a menos de 1% do sinal emitido. Este aparelho é mais preciso do que os emissores das estações de radio !!!, isto não é um tuner, é um radar militar modificado para detetar a alma da musica. Mas realizar este monstro de tecnologia nos anos sessenta e respeitando o tamanho de um aparelho vulgar, é uma demonstração de génio. A Marantz vai fabricar em interno as peças que não existiam. Condensadores de precisão em couro embebido de óleo, vão ser criados pela marca para esta aplicação. Mais de 120 ensaios de disposição dos diferentes elementos vão ser realizadas, para evitar toda interferência entre os sectores de alta frequência. Fazer habitar juntas 21 válvulas mais o tubo catódico do osciloscópio é um recorde. Cada peça mecânica é magnifica, precisa e feita para durar. O botão de sintonização ligado a um tambor metálico pesado, possui uma onctuosidade de rotação única. Um parafuso de lado do aparelho permite de afinar a agulha de seleção à frequência precisa. Os diferentes filtros comutáveis, permitem de receber o sinal com um mínimo de ruído, de distorção e de diafonia inter-estações. O osciloscópio permite de verificar visualmente a qualidade da receção, a separação inter-canais, o grau de distorção, a qualidade e a estabilidade de emissão. Enfim o andar de saída que não é do nível único do resto, é clássico e sem génio, mas de bom gosto e lindo à escuta, mas o Sequerra não era um especialista da baixa frequência (áudio) mas da alta frequência (radio e radar). Mas como dizem os designers « o 10B é tão fantástico !, que mesmo sem andar de saída, continua a ser o melhor de sempre…). Esta frase resume bem a coisa e cristaliza o que é necessário de compreender. Este aparelho, não é um tuner no sentido clássico, mas uma ferramenta de precisão, ou um aparelho de medida, concebido para receber as estações de radio.
Evidentemente esta loucura teve um preço, e muito caro. Mais de 250000 dólares foram « afundados » neste projeto. O estudo estendeu-se entre 1961 e 1966, a data em que o aparelho foi comercializado, mas já era muito tarde. O aparelho caríssimo à sua saída, custava quase o dobro do MR67 (um tuner excelente da McIntosh), o que era uma verdadeira fortuna. Cumulo do paradoxo, o Marantz 10B vai ser recebido como um aparelho ultrapassado tecnologicamente, pois sendo a válvulas numa data aonde o transístor já se tinha imposto. Resultado, as vendas não se fazem, e a marca ao bordo da falência e incapaz de compensar o balúrdio despendido, será vendida um ano mais tarde à Cinemascope Co. Japonesa. O Saul B. Marantz e o Day Sequerra vão provar o gosto amargo da deceção injusta…

Este monstro que partilha a constelação de estrelas das maravilhas do analógico, é um aparelho cansado, venenoso e cínico, mas não o levem a mal, pois ele tém razões de agir assim!. Pois é, o Tuner Marantz 10B não nasceu como um aparelho mítico, pois não foi compreendido à nascença, mas é um aparelho culto, cultissimo mesmo !, sobretudo hoje, pois é reconhecido e estabelecido que este aparelho é o maior tuner da historia da Alta Fidelidade. Este “objeto” é capaz de ouvir, de receber e de traduzir, as mais ínfimas subtilidades da alma humana pela musica, e mesmo quando está bem afinado o canto dos anjos!!!. Isto é lenda, mas perdoem-me, nesta eu quero acreditar…